É grande, mas se vc começa a ler, não consegue parar!!!rsrs
;O)
bjs e divirtam-se...
SEGURA A TAM, AMARRA A TAM, SEGURA A TAM-TAM-TAM-TAM-TAM!
Escrevo de dentro de um avião. Um avião da TAM mais precisamente. Ou seja, se você estiver lendo esse post é porque muito provavelmente o avião atingiu o seu destino. Destino esse que é… não sei. Não, não é piada. Eu estou voando para algum lugar ali pelo centro do Brasil. No momento sou quase um nowhere man. Quando saí de casa rumo ao aeroporto meu objetivo era chegar em Palmas, onde faço peça a partir de hoje à noite. Mas agora meu destino está nas mãos da TAM. Eles decidem pra onde eu vou, que horas, se vou mesmo. Vou até aproveitar que eu estou na dúvida se troco de carro agora ou se espero mais pro fim do ano, e perguntar pro pessoal da TAM. Eles decidem por mim.
Meu vôo para Palmas era direto. 11:30 da manhã desta sexta feira. Cheguei no Aeroporto Internacional Maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim pouco mais de uma hora antes do embarque, como venho fazendo toda semana. Na hora do check-in, a mocinha da empresa me sai com a seguinte pérola: “Este voo foi cancelado, senhor”. – “E…?” – foi o que perguntei, afinal, ela me deu a notícia com tanta naturalidade que imaginei ser esse um problema de menos. Tipo “o voo foi cancelado mas nós temos a solução!”. Afinal, ela me falou no mesmo tom que a minha diarista hoje cedo me falou que acabou o Toddynho. O voo foi cancelado mas sai outro em seguida, o voo foi cancelado mas transferimos para um de outra empresa no mesmo horário, o voo foi cancelado mas em cortesia vou lhe pagar um boquete, enfim, qualquer coisa.
“E…?” – “Tem um saindo agora às 10:30”. Eram 10:17. Ou seja, quem não é vidente ou chegou um pouco antes do necessário que se vire. O meu compromisso (e da minha colega, que por sinal, é uma das que está em solo provavelmente tentando se virar) é de noite. Até às nove acho que chego na capital do Tocantins. Mas e o cara que está indo para um compromisso na hora do almoço?
Parênteses: o cara que está indo a compromisso e se sentiu ou foi de fato prejudicado, deve procurar o Sr. Antonio Carlos Gabrielli, gerente de relações com clientes da TAM. Pelo menos é o que se diz na revista que folheio semanalmente a bordo da aeronave e não acredito que estejam se referindo a outro tipo de relação. Com direito a uma foto de uma página inteira, o Sr. Gabrielli se orgulha de estar na TAM desde 1972 e garante ter assumido um compromisso de fazer o máximo para que nós, clientes, tenhamos um mínimo de preocupação na hora de viajar. Bom, onde quer que o senhor se encontre, sr. Gabrielli, comigo isso – pelo menos hoje – não está funcionando. Eu tô aqui, além de estressado, preocupadíssimo. Mas ó: o senhor saiu muito bem na foto. E, mais tarde fui ver, no vídeo também. Imagem é tudo! Fecha parênteses.
Aliás, outro parênteses. É lógico que cancelaram o voo porque tinham poucos passageiros e eles não queriam gastar de gasolina mais do que ganharam com as passagens. É a política do “foda-se você antes que foda-me eu”. Seria o mesmo que eu fazer uma peça de sacanagem por ter só 20 pessoas na plateia. Esses 20 ali presentes não têm culpa se outros 400 não se interessaram pelo espetáculo. Merecem o meu melhor, como se a casa estivesse lotada. Vou pedir o contato do assessor de imagem do Sr. Gabrielli. Tô precisando de uma mídia tipo a dele, para mostrar que eu me preocupo com os meus “clientes”. Se o voo será cancelado que se ligue para esses poucos clientes informando e oferecendo outras opções. Pede pra secretária do Sr. Gabrielli fazer isso. Bem mais honesto do que deixar essa surpresinha pra hora H. Fecha parênteses.
Mas por que eu dizia não saber pra onde vou? Meu voo era para Palmas. Foi cancelado, mas tem outro saindo agora, serve? Claro. Nem despachei a bagagem, dei um pique até o portão de embarque, enquanto ligava para minha colega de trabalho e avisava que a TAM tinha entrado numas de mudar tudo. Ela tava na dúvida se tentava embarcar nesse mesmo que eu (já que ainda estava no caminho) ou se voltava para casa para retornar ao aeroporto de tarde, quando sairia o próximo, na esperança de que chegasse a tempo de fazer o espetáculo, honrar o seu compromisso, cumprir suas obrigações, realizar o seu trabalho, ganhar o pão de casa dia, enfim. Tudo bem, caso ela não chegue o Sr. Antonio Carlos Gabrielli paga a conta, a multa com o teatro, eu sei, mas… Voltando ao “pra onde vou?”. Já entrando na aeronave dei uma olhada no bilhete e percebi que eu ia na verdade para Brasilia. E, da capital, algumas quatro horas depois sairia um outro voo que me levaria ao meu destino. Um saco, mas tudo bem, arranjo alguma coisa pra fazer hora, dou uma volta, almoço, faço umas comprinhas no Free Shop, ligo pro Sr. Gabrielli pra bater um papo, me viro.
Mal me sento (literalmente mal, porque o conforto passa longe das poltronas de avião) e ouço o comandante dar as boas vindas ao voo rumo a Porto Velho, com escala em Brasilia. Pra mim nada muda, eu vou descer em Brasilia, se ele depois vai pra Porto Velho, Miami, pra ilha de Lost ou pro raio que o parta não me interessa. Até que… quase cochilando… “uma correção, nosso voo é para Palmas, com escala em Brasilia”. Opa! Essa informação muito me interessava! Mas era boa demais para ser verdade. Me levantei, indo em direção ao simpático comissário de gel no cabelo. “Amigo, afinal, esse voo vai pra onde?” – “Acho que Brasilia, senhor”. Aquele “acho que” me soou meio esquisito. Acho que? Tipo, é um comissário “papel na ventania”. Pra onde o vento bater ele vai. “Meu negócio é voar, num interessa pra onde. Tô voando, tô servindo lanchinho, tô fazendo a coreografia dos procedimentos-com-as-máscaras-que-cairão-automaticamente-em-caso-de-emergência, tô feliz. Me leva que eu vou!”.
Desisti. Enquanto o avião não decolava, liguei pra minha produtora (que já estava em Palmas, foi na véspera) avisando que não sabia que horas chegava, nem nada, etc, que não precisava mandar o carro me buscar no aeroporto, eu pegaria um taxi para ir até o hotel e depois mandava a conta, sei lá, pro Sr. Antonio Carlos Gabrielli. Diante do inevitável, relaxa e goza. Não foi o que sugeriu a mãe do Supla no auge da crise aérea? Quando o avião posar eu vejo o que eu faço. Eis que surge uma simpática aeromoça com cabelo laqueado e lenço no pescoço avisando, meio que como amiga: “Senhor, provavelmente o senhor não vai precisar descer em Brasilia. Este mesmo avião segue para Palmas”. Excelente notícia. Não fosse o “provavelmente”. A essa altura eu já estava preocupado e me perguntando se pelo menos o piloto sabia pra onde deveria ir.
Sei que existem situações bem piores, eu mesmo já passei algumas, já ouvi amigos relatando outras, mas eu precisava desabafar. Até porque não se pode usar o celular no avião, então nem tenho como bater um fio pro Antonio Carlos (acho que já posso chamar o Sr. Gabrielli assim, somos praticamente íntimos). Caso o avião caia (não vamos esquecer que é um voo da TAM) espero que junto com a caixa preta encontrem o meu Mac branco com o relato da minha insegurança.
No momento serviram um sanduíche de salaminho (a barrinha de cereal é especialidade da empresa concorrente) e eu li na revista “TAM nas nuvens” uma simpática carta do simpático presidente da TAM, Comandante David Barioni Neto, fazendo uma simpática média com os cariocas, dizendo que a empresa (até pela sua origem) é vista como “muito paulista” e que eles queriam ser “cada vez mais cariocas”. Uma óbvia política de vaselina com um mercado provavelmente mais em baixa. Vaselina essa que eles não usaram lá no check up quando me enrrabaram com a notícia de que eu meu voo fora cancelado.
Pois estão começando bem nessa tentativa.
No Rio é muito comum se marcar compromissos na praia ou nos Baixos Gáveas da vida. Um “ligaê”, “vamo se ver”, “a gente se fala”, compromissos assumidos que nunca se realizarão. Às vezes são praquele mesmo dia. “Vamo hoje?” – “Demorô”. E nunca mais se falam. Não vão (pelo menos não os dois juntos), nem se ligam, nem descombinam, e tá tudo certo. Faz parte do carioca way of life. Nem eu te ligo, nem você me telefona e a gente não se encontra naquele lugar que nunca marcou. Pois a TAM está começando com o pé direito na sua tentativa de se acariocar. Vai pra Palmas? Tem um compromisso? Compra a passagem e chegaê. Se der a gente te leva lá.
Já é.
PS: O piloto acabou de avisar que estão iniciando o processo de pouso em Brasilia. Se eu chegar em Palmas, estarei no Teatro Fernanda Montenegro, de sexta a domingo. E vingado. Roubei o travesseirinho do avião. Tá, uma vingança meio sarapa, mas foi a que me ocorreu na hora.
PS do B: Antonio Carlos Gabrielli, você é meu convidado para minha peça quando ela estiver na sua cidade. Pagando ingresso, claro. Aí nesse dia eu penso se faço o texto como ele é, ou se fico só enrolando, finjo que deu branco, ou simplesmente subo no palco e digo que “hoje não tô muito afim de fazer a peça”. Aí o senhor reclama, pede o dinheiro do ingresso de volta. E eu não vou devolver.
UPTADE: Escrevo agora do aeroporto de Brasilia. Eram 2 horas entre o pouso e a decolagem. O piloto ainda sugeriu, meio sem saco pros três manes (eu um deles) que seguiriam até Palmas: “Se quiser desce, senão pode esperar aqui na aeronave”. Pensei em sugerir que a gente organizasse um bingo, eu, ele, os outros dois manés e a tripulação. Mas preferi descer. Vai que o Sr. Gabrielli tá de bobeira por aqui, a gente pode, sei lá, jogar um buraco.
LAST BUT NOT LEAST: Em Brasilia, 14 horas. Acabei de receber ligação da nossa produtora em Palmas. O avião seguinte saindo do Rio, o que minha coleguinha vai pegar, sai às 15h, chegando na capital tocantinense (depois da escala/conexão no Distrito Federal) tipo meia-noite. Ou seja, a sessão de hoje foi cancelada. Faremos duas amanhã (sábado), o que para mim (que estou com a garganta debilitada) é um verdadeiro martírio. Nem estou pensando que, nesse caso, poderia ter viajado só no sábado e ter visto o Radiohead. Isso agora é o de menos. De bem menos. Quero saber é quem vai pagar o prejuízo pelos quase 500 ingressos vendidos antecipadamente? Sr. Gabrielli, gostaria de dizer alguma coisa? Ou deixa com os nossos advogados? Melhor, né? Para não estragar nossa saudável relação TAM/cliente.
Há 8 anos
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